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A Dialéctica de Proudhon: Uma Dialéctica da Liberdade

Anonyme, Sunday, March 23, 2003 - 16:39

Francisco Trindade

A Dialéctica de Proudhon: Uma Dialéctica da Liberdade

Basta uma breve vista de olhos sobre a literatura secundária para se perceber que os estudos consagrados a Proudhon inscrevem-se na maior parte das vezes numa perspectiva sociológica ou política, raramente filosófica. Proudhon não é levado a sério pelos filósofos, e os sociólogos e políticologos que partilham o discurso sobre ele deixam de lado o plano mais propriamente filosófico.
O caso da dialéctica, verdadeiro nexo de todo o pensamento proudhoniano, é particularmente característico nesta perspectiva. Desde 1936, nunca existiu publicação que lhe fosse especificamente consagrada; ela faz unicamente o objecto de alusões ou de breves capítulos na margem de trabalhos orientados sobre outras questões. Como explicar esta falta de interesse das críticas por um dos temas centrais do pensamento proudhoniano, nos mesmos dizeres do seu autor, senão pelo desinteresse por toda a parte, mais propriamente filosófica da obra proudhoniana?
O problema não é datado. Se se toma em consideração a primeira recepção dos dois textos onde Proudhon expõe a sua concepção da dialéctica, Da criação da Ordem na humanidade e Sistema das Contradições económicas, constata-se que a parte filosófica destes escritos é, desde o surgimento, o objecto de inúmeras críticas. Proudhon queixa-se de si mesmo num texto que fixa de algum modo, negativamente, o quadro interpretativo que lhe convinha aplicar e o bem que ele concebe entre as diversas partes do seu sistemas, filosófico, político e religioso. Um ano depois da aparição da Criação, Proudhon escreve ao seu amigo Ackermann:
« Vós solicitais que eu tenha partidários. Eu confesso-vos muito humildemente - ou convictamente - que neles não acredito. - Pauthier encontra a minha teoria muito especial; (…) Tissot pronuncia claramente que a minha metafísica não é nada; a Revista independente declarou que me iludo; Pierre Leroux aproxima-me em ter atribuído a Fourier a primeira percepção da lei serial, sem explicar-se aliás; a grande parte diz que eles não me compreendem.

» Para o resto, uns aceitam a economia política e a teoria das funções; outros são arrebatados ao ver a religião atamancada, mas não admitem que a filosofia não seja nada, e vice-versa (…). Os republicanos sabem pouco dos meus trabalhos, porque eu não sou partidário cego da guerra, das fortificações de Paris, e outras opiniões revolucionárias; os comunistas, que não se figuram como dois princípios contraditórios (propriedade e comunidade) podem formar uma Síntese que os absorve e os transforma, olhando-me quase como um legítimo meio.» Por isso a constatação de incompreensão, aproxima-o de que Proudhon formula acerca dos seus difamadores ao despedaçar de alguma forma o seu pensamento para meter só um aspecto, político, religioso ou filosófico, em detrimento dos outros, sem compreender a ligação orgânica que os une.
Apesar dos ecos bastantes negativos em França e a recepção na Alemanha, favorável seguramente ao primeiro texto mas francamente hostil ao segundo, que ocasionara a ruptura com Marx (a atitude de Marx perante Proudhon desde 1846 tem também, sem qualquer dúvida, contribuído em descrédito daquele e do seu projecto dialéctico), Proudhon não desarma; seguramente ele não consagra nenhum capítulo específico ao tema da dialéctica nos textos posteriores no Sistema das contradições económicas, mas o conjunto da sua obra só se compreende a partir da dialéctica, que a sub entende ligando-a às diferentes partes.
O carácter doravante mais misterioso da dialéctica derrotou os intérpretes, que transferiam o seu interesse sobre os problemáticos explicitamente temáticos do pensamento proudhoniano. Mesmo P. Haubtmann, nos seus notáveis titânicos estudos sobre Proudhon, faz pouco caso desta dialéctica, que ele considera como um capítulo terrível do pensamento proudhoniano e sobre o qual ele ironiza com inspiração. Certamente, «força está-lhe (…) por outras palavras, mas, apercebe-se, ele não o faz só como um manifesto de má vontade e não deixa de destacar o seu desacordo quanto ao pretendido carácter luminoso e decisivo que Proudhon empresta à sua teoria («nós não partilhamos o seu conselho (o conselho de Proudhon), escreve ele a propósito da evidência da lei séria como critério de certeza). Incerta poeira aos olhos sem real fundamento, a dialéctica séria surgia «mais obscura que convincente, mesmo se se admite as suas conclusões», confusa por outro lado, os desenvolvimentos que lá consagram Proudhon “são de tal modo verbais, indigestos, e obscuros que ele não os considera útil “acompanhar



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