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A Importância de Proudhon na Cultura Portuguesa

Anonyme, Samedi, Juillet 6, 2002 - 09:10

Francisco Trindade

Nos finais dos anos 60 do século passado, surge em Portugal um tipo de associação - a cooperativa - onde aí se verifica não a influência de Marx ou Bakunine mas de Proudhon.

A Importância de Proudhon na Cultura Portuguesa

Nos finais dos anos 60 do século passado, surge em Portugal um tipo de associação - a cooperativa - onde aí se verifica não a influência de Marx ou Bakunine mas de Proudhon. Aliás Marx é nesta altura um ilustre ausente e quanto a Bakunine só há nitidamente dois autores que se enquadram nos seus postulados: Eduardo Maia e Nobre França. Podemos já neste momento concluir, que quer a nível internacional e principalmente tendo em conta o movimento operário português não tem sentido reduzi-lo ao pseudo-combate marxista-bakuninista pois "deriva, primeiramente de uma série de limitações nacionais tais como: problemas teóricos, de estrutura organizativa e de composição social do proletariado português" como salienta Carlos da Fonseca na obra A Origem da I Internacional em Lisboa. Sublinhemos que antes de qualquer outro, foi Oliveira Martins que pôs o dedo no drama inicial do nosso vector socialista: a inexistência de indústria e, por via de consequência, a "ausência de numerosas classes operárias" (Portugal Contemporâneo, 1881), donde a impossibilidade de fazer uma revolução real. Sobre o período da Regeneração, dizia Oliveira Martins: "A Espanha teve Cartagena, a França teve ainda a Comuna de 71: nós tivemos umas greves apenas, por não possuirmos suficiente indústria fabril". Para nos darmos conta da importância de Proudhon é importante exprimir o conteúdo da A.I.T. Poderíamos certamente dividi-la em dois grandes campos opostos: o dos "autoritários" e o dos "anti-autoritários." Embora estas expressões sejam utilizadas quer a nível teórico quer a nível prático correspondem a uma realidade histórica, são no entanto categorias que encerram conceitos um pouco imprecisos pois a A.I.T. foi uma miscelânea de partidários de Owen, Mazzini, Proudhon, Blanqui, Lassale, Marx, Bakunine, trade-unionistas, cartistas, etc. Só fazendo tábua rasa desta realidade, poderíamos aceitar a confortável tese das duas tendências, ditas principais, a marxista e a bakunitista. Já por aqui se aborda a importância fundamental de Proudhon pois na realidade a ideologia das secções de Paris era somente proudhoniana e a influência de Bakunine em França foi nula inclusive na revolta blanquista de Lyon em 28 de Setembro de 1870. O mesmo se pode dizer para o Marxismo em Inglaterra ou na Alemanha, onde as secções foram formadas por não marxistas. Já que se fala em Proudhon é necessário ter presente que a sua obra toca uma multitude de problemas que é urgente ter em conta: Em primeiro lugar, o regime económico, o problema do Estado, a Filosofia, a questão da Justiça e ainda os problemas internacionais e a questão nacional. As principais questões levantadas por Proudhon foram as seguintes: A crítica do capitalismo, onde se salienta a análise da propriedade e a análise das contradições económicas. As classes sociais, em que as classes que Proudhon se refere foram fundamentalmente a grande burguesia, a classe média, o campesinato e as classes operárias. A crítica do Estado. A crítica da Religião. A dialéctica e o seu objecto, onde se sublinha a dialéctica social e a realidade do social. A filosofia social, onde pontifica o trabalho como facto e como valor, a vida social e o problema da justiça. A revolução social. A economia mutualista, onde se tem que se ter em conta dos princípios às reformas, a agricultura mutualista, o artesanato da produção e a sua planificação. Finalmente, temos o problema fundamental de todo este sistema, melhor dizendo, deste anti-sistema, porque não autoritário nem dogmático, que é a questão do Federalismo. É importante salientar que todos estes problemas serão abordados pelos pensadores portugueses da segunda metade do século XIX, destacando-se Amorim Viana, Oliveira Pinto, José Frederico Laranjo, Antero de Quental, Oliveira Martins, Silva Mendes, e os pensadores da C.G.T. como Manuel Joaquim de Sousa e Emílio Costa. Logo em 1852, Amorim Viana e em 1853, Oliveira Pinto tecem já comentários contraditórios sobre Proudhon mostrando bem a influência decisiva que já começava a exercer na vida intelectual portuguesa. Vejamos o que diz Amorim Viana: "Proudhon é incontestavelmente uma das mais poderosas inteligências que nestes últimos tempos se tem distinguido em França. O tom acrimonioso dos que o pretendem combater e a tirania que desde 1849 tem sobre ele exercido o governo provam só, nuns impotência de refutar suas doutrinas, noutros receio que elas se compreendam e vulgarizem." E agora Oliveira Pinto: "Proudhon é a incarnação da contradição inerente à natureza do socialismo, escola de liberalismo, na qual a tirania é o primeiro princípio, e talvez a escravidão a última consequência. A inauguração do princípio socialista pelo poder, pelo governo, como a quer Louis Blanc, ou pelo povo, como a quer Proudhon, em nada altera o princípio, que como tal é o mesmo para todos."

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