A realização deste estudo foi motivado pelo facto dos anarquistas terem entrado inicialmente no governo da Catalunha a 27 de Setembro de 1936 e posteriormente no governo central a 4 de Novembro do mesmo ano. A investigação levada a cabo mostrou que por detrás desse acontecimento paradoxal, algo mais importante se ocultava.
ESTADO E BUROCRACIA NA GUERRA CIVIL ESPANHOLA
"A burocracia detém a essência do Estado, a essência espiritual da sociedade; esta é a sua propriedade privada. Mas, no seio da burocracia, o espiritualismo transforma-se num crasso materialismo, o materialismo da obediência passiva, da fé na autoridade, de o mecanismo de uma actividade formal fixa, de princípios, de tradições fixas.
Enquanto para o burocrata tomado singularmente, o objectivo do Estado se torna um objectivo privado, uma caça aos postos mais elevados, um fazer carreira.
Na burocracia, a identidade entre o interesse estatal e o objectivo privado particular situa-se de tal modo que o interesse estatal se torna um objectivo privado particular perante os outros objectivos privados."
Marx
Os burocratas e ortodoxos do Partido Comunista não leram esta passagem de Marx ou então esqueceram muito depressa a Crítica da Filosofia do Direito de Hegel.
I
A realização deste estudo foi motivado pelo facto dos anarquistas terem entrado inicialmente no governo da Catalunha a 27 de Setembro de 1936 e posteriormente no governo central a 4 de Novembro do mesmo ano. A investigação levada a cabo mostrou que por detrás desse acontecimento paradoxal, algo mais importante se ocultava. Tratava-se somente da ponta do iceberg. O fenómeno desta adesão a algo que visceralmente os anarquistas sempre repudiaram tinha a ver com as transformações que a própria CNT-FAI, ao nível de alguns dos seus dirigentes, ia sofrendo. A burocratização do Estado renascente a partir de finais de 36 e da própria CNT-FAI, o aniquilamento das Milícias para a formação dum exército regular que se prende com uma certa bolchevização da CNT a partir de princípios de 37 e com a defesa do centralismo democrático por parte dos dirigentes cenetistas são factores que estão por detrás da burocratização e da estatização da CNT-FAI. A entrada de 4 anarquistas no governo central é por isso consequência quase que inevitável, tendo em conta o peso e a importância da CNT-FAI no conjunto da Espanha republicana.
II
Ao nível do processo histórico e da acção prática assim como no mundo imaginário dos libertários, os três anos de guerra civil espanhola ou como outros gostam mais de chamar, da Revolução e contra-Revolução em Espanha ou ainda como será mais correcto designar de guerra social espanhola, o papel da máquina do Estado foi capital quer nos primeiros tempos em que o seu protagonismo foi bastante secundarizado mas não totalmente esmagado, quer depois com o seu restauro devido, quer à insegurança e contradições da CNT-FAI, quer devido aos comunistas
espanhóis fortemente apoiados por Moscovo.
Para os libertários e apesar das suas diferenças que cada vez mais me convenço de que são mais aparentes do que reais, há um conjunto de tópicos que me parecem básicos, que podemos designar comuns a todos e portanto funcionam como axiomas. Vejamos alguns deles:
Onde quer que haja autoridade, há sacrifício e vice-versa. O chefe e o militante são o ponto onde a revolução se inverte e se torna o contrário da emancipação. Assim, tornar-se um chefe é deixar de ser humano para todos aqueles que têm a consciência que o estão a tratar como subordinado.
O Estado é o regulador e a rede protectora da mercadoria. Esforça-se por ordenar politicamente o trabalho social em direitos e deveres do cidadão, por organizar os planos ideológicos e os mecanismos repressivos que transformam o indivíduo num servidor do sistema mercantil.
Onde quer que haja Estado, há polícias. Onde quer que haja polícias, há Estado ou esboços. O polícia é o cão de guarda do sistema mercantil. Surge sempre coberto pela classe ou pela casta burocrática dominantes. Daí que seja legítimo concluir que qualquer hierarquia é policial. Do mesmo modo é falso crer que as reivindicações de salário podem por em perigo o capitalismo privado ou de Estado: o patronato não concede aos operários senão o aumento necessário aos sindicatos, para demonstrar que estes ainda servem para alguma coisa; e os sindicatos não exigem do patronato, que dispõe do aumento dos preços, senão somas que não coloquem em perigo um sistema em que eles são os segundos a lucrar.
A política é sempre a razão do Estado. Para acabar com ela é preciso acabar com o sistema espectacular mercantil e respectiva organização de protecção - o Estado.
Não há parlamentarismo revolucionário, assim, como não há, nem nunca pode haverá um Estado revolucionário. Entre os regimes parlamentares e os regimes ditatoriais a diferença é a mesma que entre a força da mentira e a verdade do terror.
Como qualquer ideologia, como qualquer actividade separada, a polícia recupera as reinvindicações radicais para as fragmentar, transformar no seu contrário. Por exemplo, o desejo de modificar a vida transforma-se, nas mãos dos partidos e dos sindicatos numa reivindicação de salário, um pedido de tempo livre e outros melhoramentos de sobrevivência, que mais não fazem do que aumentar o mal-estar, tornando-o mais ou menos confortável, momentaneamente.
Os sindicatos são a burocracia para-estatal que completa e aperfeiçoa o poder que a classe burguesa exerce sobre o proletariado.
O hábito de falar sem dizer nada, de se perder em falsos problemas, de dar atenção aos que falam de uma maneira e agem de outra, de se abandonar à fadiga dos disparates quotidianos e do repetitivo, é ainda uma maneira de impedir cada um de reconhecer nas suas paixões, nos seus desejos de vida autêntica, o inverso dos desejos de apropriação privada inventados pelo comércio, os seus verdadeiros interesses.
A linguagem que não conduza à sua prática, depressa se transforma em ideologia, ou seja, em mentira, como tudo o que dizem os membros dos aparelhos burocráticos, (partidos, sindicatos, grupos especializados no melhoramento do rebanho operário).
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